COLMEIA, A - NOSSA HISTORIA COM AS ABELHAS

Sinopse

Ao contrário do que parece, A colméia, livro da historiadora britânica Bee Wilson, não é uma obra sobre apicultura ou entomologia, mas sobre o pensamento e o comportamento humanos. Fascinada por abelhas, a autora dedicou-se a estudar a organização das abelhas apenas por hobby e se deu conta de que observá-las era também aprender sobre a Humanidade. Há pelo menos 6 mil anos a espécie é relacionada à política, ao sexo, à beleza, à alimentação, à morte e vários outros aspectos da vida humana. Wilson mostra como, desde sempre, o homem tenta dominar, compreender e copiar as abelhas.A organização funcional das abelhas entre operárias, zangões e rainha é invejada e admirada pelos homens há muito tempo. Trata-se de uma estrutura que já foi usada para explicar e justificar a monarquia, o totalitarismo, a escravidão, o socialismo e a democracia. Na Roma Antiga, o filósofo Sêneca, conselheiro de Nero, já citava as abelhas-rainhas como prova de que reis e imperadores eram uma imposição da própria natureza, algo que não se podia mudar. Em 1793, em meio à Revolução Francesa, as abelhas foram adotadas como símbolo do ideal de liberdade, igualdade e fraternidade, porque elas não faziam mesuras a ninguém, eram iguais entre si e trabalhavam em conjunto, respectivamente. Napoleão também as adotou como símbolo, tendo decorado a catedral de Notre Dame com abelhas douradas no dia de sua coroação, em 1804. Assim que os movimentos operários começaram a surgir, no século 19, a colméia passou a ser vista como modelo de sociedade perfeita, porque, nela, os indivíduos trabalham em harmonia pelo bem-estar coletivo. Aristóteles, Xenofonte, Virgílio, Thomas Hobbes, Jean-Jacques Rousseau e Karl Marx são apenas alguns dos pensadores que invocaram as abelhas para exemplificar suas idéias. É igualmente antiga a associação das abelhas ao sexo. Basta lembrar da tradição da lua-de-mel, do uso erótico do mel e do ferrão da abelha visto como uma referência fálica. Na mitologia hindu, Kama, o deus do amor, costuma ser mostrado cavalgando uma espécie de fusão de abelha e leão, sendo que a abelha simboliza a doçura do amor. Cupido, ou Eros, outro deus do amor, flecha suas vítimas com setas embebidas em mel. Em todos as épocas, o mel desempenha papel importante em rituais e tradições matrimoniais de todo o mundo. Há também o reverso da moeda: os primeiros líderes da Igreja usavam as abelhas como modelo de castidade a ser seguido.O mel também está relacionado à morte. Ele é utilizado há pelo menos 4 mil anos para embalsamar corpos. Desde a Antigüidade o mel está presente em rituais fúnebres, usado como meio de afastar os maus espíritos, por exemplo. É possível, inclusive, usar o mel para matar alguém por envenenamento. Por outro lado, pensa-se ainda em vida e beleza quando se fala em mel. O doce produto das abelhas estava presente em mais da metade dos remédios usados no Antigo Egito. Ele também é ingrediente de diversas fórmulas naturais de xampus, esfoliantes e cremes para a pele, usado em larga escala até hoje pela indústria cosmética e farmacêutica. Em seu livro, Bee Wilson até dá algumas dessas receitas.E quando o assunto é gastronomia, não é possível lembrar de uma única grande cozinha que não tenha louvado o mel. Por milhares de anos, ele foi o único adoçante disponível. Não é à toa que o bolo de mel está na Bíblia. Porfírio (século 3 a.C.) e Eurípedes (século 5 a. C.) enalteceram suas qualidades. Além disso, vale dizer que o mel fermentado foi o primeiro meio que os homens encontraram de se embebedarem, muito antes do vinho. Bee Wilson aproveita a deixa para dar deliciosas receitas à base de mel, retiradas da culinária de diversos países. A autora também destaca a colméia como uma maravilha geométrica que influenciou várias gerações de arquitetos, incluindo Antonio Gaudí e Le Corbusier, que obtiveram resultados completamente diferentes, mas igualmente encantadores.